
O que são cafés especiais para você?
Essa pergunta subjetiva pode ter muitas respostas. Pode ser o café da mãe, da avó, o do trabalho, dividido com amigos, feito pela senhorinha que trabalha a décadas na copa da empresa. Bem amargo? Bem doce? Vale tudo na resposta, que normalmente evoca lembranças associadas aos goles na bebida envoltos pelo aroma característico de um bom cafézinho. Mas para o mercado, café especial não tem nada a ver com o espaço ocupado por essas lembranças que moram no coração, e sim com a qualidade do grão.

O engenheiro agrônomo Gabriel Felipe Marquiori Lázaro, do Café Semeado, explica que o café tem uma pontuação, que é dada por “provadores profissionais” e vai de 0 a 100. Quando a nota atinge até 70 pontos, o café está na lista dos convencionais; de 71 a 80, são cafés gourmets; de 81 a 83, são cafés especiais e de 84 a 100 são os chamados super especiais. “Quem determina isso é um profissional chamado Q-grader, que não toma bebida alcoólica, não fuma, tem um paladar mais refinado, e pode determinar isso quando o grão chega na cooperativa, antes de seguir para o consumidor final”, detalha.
Mercado de cafés especiais em expansão
O Brasil é referência na produção do grão, mas tende a exportar o de melhor qualidade para países mais ricos e a população local acaba tendo mais acesso a produtos menos qualificados.
“É um mercado muito novo e o consumidor muitas vezes não conhece. Um produto novo precisa ser levado ao consumidor com mecanismos de ocupação para que a gente consiga trabalhar do grão à xícara. O produtor precisa produzir qualidade, mas precisa encontrar espaço no mercado para aquela qualidade, encontrar os canais de comercialização para que, na ponta da cadeia, o consumidor consiga valorizar e não trazer confusões sobre o produto”, diz a pesquisadora Sandra Schiavi.
Ela afirma que a educação do consumidor para que ele passe a entender e valorizar o café especial, que é mais caro do que o tradicional, leva tempo.
“Como nunca tomei esse café no meu País?”

Chico Artal é especialista em cafés especiais e degustador profissional, competidor em degustações de cafés especiais e dono de uma cafeteria que foi a primeira a torrar o próprio café in loco na cidade, a The Kingdom, que hoje tem duas unidades. Maringaense, nascido em uma região que se desenvolveu em torno da cultura cafeeira, ele provou um café especial pela primeira vez na Grécia, durante uma temporada de três meses que passou em uma ilha grega. “A ilha só tinha uma cafeteria, que era minha zona de fuga quando eu sia do trabalho. Eu provava café todo dia servido nessa cafeteria e o café era brasileiro, servido lá na Grécia. Na minha cabeça não entrava ‘como o café brasileiro está sendo servido dessa forma nesse país e eu nunca tomei esse café no meu País?’”.
A sensação de inconformidade o impulsionou a empreender na área, estudando e educando o consumidor na escolha dos melhores cafés. “O Paraná já foi referência em questão de produtividade. A produção rural foi muito grande antes de 1975. E hoje a gente está vendo uma outra vertente crescendo, que é a experiência de cafeterias. O cliente está tendo acesso a cafés de qualidade e à experiência de tomar esse café fora de casa. É a experiência do café na xícara”, explica.
E o especialista dá dicas para quem está entrando agora nesse novo universo. “Tem que provar. Você vai começar a entender de que sensorial você vai gostar, se mais frutado, mais encorpado, mais doce, com leite, com cacau… A gente vai descobrindo nosso paladar com essa experiência prática”.